Lá vinha eu de guarda chuva aberto, como sempre chamando
atenção de todos que me viam. Eu estava tranquilo, era dia de sol forte, calor,
o mar estava brilhante e dourado de tão bonito. Toquei a campainha da casa do
Vini, em poucos minutos ele chegou. Parecia ter adivinhado que era eu. Seu olhar
estava triste, sua casa parecia agitada. “Aconteceu alguma coisa?”, eu
perguntei. Vini me deu a tão triste
noticia: “ Estou me mudando de cidade Lipe”. Como podia ser? Os
amigos não poderiam ir embora de nossas vidas assim. Mas eles muitas vezes se
vão. Tentamos disfarçar, eu abaixei um pouco o guarda chuva, os olhos cheios d’agua.
Ah meu amigo, meu irmão que não vem do sangue, mas da força dos sentimentos... ah
meu amigo. Palavra poderosa, pessoa que nos faz ver sentido em dias de chuva ou
dias de sol, com ou sem guarda chuva; amigo.
“A Lisa já sabe?”, “Não. Vamos lá
comigo contar para ela?”. Fomos; Lisa chorou e disse: “Mas ainda há tanta coisa
pra gente fazer juntos”. E juntos debaixo do guarda chuva, que naquele dia de
sol nos protegia da força do tempo que ergue e destrói que escreve e apaga. Mas
que sobre nós, na verdade, tatuava o laço de prata que não se desfaz; a
amizade. O ano nem tinha terminado e Vini já tinha se mudado, eu e Lisa não nos
víamos sempre como antes. Um dia a encontrei sentada no morro de Sant’Anna, era
sábado, á tardinha, o sino da igrejinha tocava, ia começar a Missa. Diante da
imagem de um anjo, virado para o mar e apontando para o céu, tendo aos pés uma
urna gravada a palavra “sim”, eu e Lisa também oferecemos o nosso “sim” de não
nos esquecermos do Vini e nem um do outro. Dias difíceis, foram àqueles últimos
meses que antecederam as novas férias que viriam.